Muito além do que se possa imaginar, a Maçonaria não se constitui apenas e tão somente de alguns ideais e princípios que delineiam o seu perfil como uma instituição iniciática que prima pela evolução e progresso do ser humano.
Como um amálgama de adjetivos que a caracterizam, a Maçonaria é filosófica, progressista, histórica, lendária, simbólica, discreta, esotérica e antropológica, sendo ainda dotada de religiosidade e espiritualidade.
Tudo isso contudo, não lhe confisca uma característica única e relevante, que é o seu caráter sigiloso.
Fundamentada inicialmente no que se denomina Maçonaria Primitiva (especialmente voltada para os chamados Mistérios), e posteriormente aos trabalhos Operativos que os Maçons desempenhavam na Idade Média, guardando os segredos da Arte da Construção, com o passar do tempo, já em meados do Século XVIII a Maçonaria passou a aceitar em seu meio homens cultos, intelectuais, eruditos e filósofos dentre outras figuras de destacado conhecimento humanístico, que se incumbiram de redesenhar o perfil da Sublime Ordem, conferindo-lhe gradativamente um aspecto muito mais Especulativo, em que o Pensamento, as Idéias e a Configuração de uma instituição voltada para o próprio desenvolvimento interior do homem ganhassem forma e requinte.
O termo Especulativo era conferido ao homem voltado à contemplação e à meditação.
Esse natureza ganhou ênfase com a adoção do Simbolismo que se constitui na ciência interpretativa dos símbolos.
Desse modo, a filosofia maçônica passou a se expressar através de símbolos, utilizados para referir-se a um objeto, um instrumento, ou qualquer outra matéria com o propósito de alcançar resultados mais esotéricos, espirituais e ao mesmo tempo intelectuais, e de algum modo revestidos de um relativo misticismo, o que lhe garantia também um âmbito metafísico, que pudesse ensejar um diálogo ou um vínculo com o conceito de um "princípio criador do universo" - criador e incriado - como parâmetro para a própria explicação de nossa Existência.
A relação do Templo Maçônico como uma representação do universo que nos envolve aliada à própria obediência ritualística, solene e litúrgica respaldada por palavras, sons, toques, marchas e baterias são o legítimo arcabouço que impõe ao Maçom, passar por uma série de experiências, que o levem a conseguir descortinar pouco a pouco os augustos mistérios da Ordem.
Todo esse processo se compõe de um amplo arsenal codificado, que só pode ser decifrado, revelado e compreendido, a partir do trabalho nas pedras, cuja metáfora se instala no próprio interior do homem.
A linguagem simbólica e seu compêndio de significados e referências exigem do maçom uma devoção ao estudo, à leitura contínua, e à dedicação ao trabalho pelo Reconhecimento entre seus pares.
Ser reconhecido como maçom, não é uma mera circunstância acadêmica ou formal.
Esse reconhecimento passa por um desencadeamento de observações, conhecimento dos Toques e Palavras, e principalmente pela comunhão fraterna, que ateste a legitimidade de seu comportamento ético e moral.
O trabalho empreendido pelo obreiro impõe que seus pares manifestem e reconheçam sua conduta ilibada, conscientes de que essa lavra está sendo empreendida com todo o sigilo, discrição e o cumprimento de seu juramento de nunca revelar o que se passa em sua Oficina.
A caminhada maçônica é antes de mais nada um procedimento altamente individual, que exige do maçom uma constante visita ao seu interior (V.I.T.R.I.O.L.) Visita Interiora Terrae, Rectificando que, Invenies Occultum Lapidem - expressão latina encontrada na Câmara de Reflexões que significa: "Visita o Interior da Terra e Retificando, Encontrarás a Pedra Oculta" o que vale dizer que a vida impõe um verdadeiro renascimento.
A Pedra Bruta é o que esconde o nosso próprio segredo. E a partir dela, o Maçom obriga-se a desbastá-la, conferir-lhe forma, e finalmente poli-la para então dar prosseguimento à sua jornada.
O Segredo da Maçonaria é intraduzível, pois sua essência é individual, pessoal, intransferível, única e singular.
O caráter desse segredo tem uma natureza eminentemente filosófica e não se transmite, pois ele existe por sí só e reside no esoterismo do pensamento.
Cabe registrar que os Augustos Mistérios da Maçonaria se descortinam através de uma trabalho singular em que o Maçom se entrega ao estudo, à pesquisa, e à observação permanente dos Símbolos contidos no Universo que o cerca.
Ainda que a Sublime Ordem passe por tantos percalços, ameaças, altos e baixos, e inescrupulosas tentativas de alterar a sua consistência, é indispensável lembrar que o Segredo Maçônico encontra apoio e sustentação no seu Hermetismo, que consiste no estudo e prática da evolução e expansão da consciência humana até a consciência transcendental adentrando dessa maneira nos mais profundos mistérios da Criação.
Tal qual o ecologista que se empenha para preservar o meio ambiente, é dever do legítimo maçom cumprir seu juramento ou compromisso para preservar o seu Segredo.
NEWTON AGRELLA
Belíssima reflexão! Parabéns e obrigado!
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